Estive a ver novamente as filmagens do último post. Parece mesmo que sou eu a bater com a cabeça na mesa, apesar de não ser verdade. É um duplo. Eu só tive de colocar lá a cara depois. Mas posso dizer que fiquei muito satisfeito com o trabalho dele.
No entanto, não foi uma decisão fácil. Durante muito tempo pensei em usar a minha própria cabeça. Receava colocar outra pessoa a fazer esse trabalho porque pretendia naturalidade para aquela cena. Sabia que isso podia perder-se com alguém que não estivesse tão envolvido no projecto como eu. Isso tirou-me muitas horas de sono. Às vezes, até de noite.
É evidente que tive de concluir que a cena era perigosa demais. Os riscos para a minha saúde, além de consideráveis, colocavam em perigo toda a produção. E isso seria de grande irresponsabilidade, pelo que entendi não o fazer.
Tive muito trabalho para encontrar a pessoa certa. Apareceram mais de 300 candidatos para prestar provas. Tive de os avaliar a todos. Por fim, quando já estava em desespero de causa, a pensar que era impossível encontrar alguém adequado e que o melhor era desistir de tudo, eis que me aparece um jovem rapaz, um pouco rude, é certo, mas muito dinâmico e atlético, que acabou por ficar com o lugar.
Curiosamente, era muito parecido comigo. E por mero acaso, também se chamava João Lopes. E por enorme coincidência, e isto faz uma pessoa pensar como o mundo é pequeno, a minha mãe era a mesma que a dele. Claro que houve logo pressões da minha mãe para lhe dar o lugar. Mas eu sou um gajo profissional e sei o que faço. A única razão porque o escolhi foi porque, de facto, fiquei bastante impressionado com a sua entrega.
Como estou outra vez desempregado, passo agora muito mais tempo a masturbar-me.
Isto acontece porque sou administrador do sistema informático da minha casa e, como administrador, uma das primeiras coisas que fiz foi conceder-me privilégios de livre acesso à Internet. Aqui não existem restrições à pornografia, como injustamente acontecia no trabalho. E, como é natural, o apelo do sexo é forte demais para conseguir resistir-lhe.
O aumento de download’s também fez subir a conta da TV Cabo, de 42€ passou para 77€, o que é claramente incompatível com o meu subsídio de desemprego.
Ando a masturbar-me demais para aquilo que ganho. Isso é um problema. Preciso de apoio nisto. Inevitavelmente, terei de ir à Segurança Social…
Sei que vou lá perder uma manhã inteira, mas tenho de saber se estas situações foram previstas pelo Estado, e, se efectivamente foram, qual o subsídio correspondente a que tenho direito.
Como é óbvio, terei de fazer prova da minha condição.
Não posso simplesmente afirmar que sou um indivíduo que se masturba além das suas posses. Qualquer pessoa pode fazer dizer isso! O governo vai querer certamente que o demonstre.
Para receber o subsídio de desemprego funciona assim:
Para que vejam que não trabalho preciso de, quinzenalmente, e a uma determinada hora, apresentar-me numa associação de solidariedade perto da minha casa. Então, a técnica social ali presente, entrega-me um papelinho a indicar a data limite da próxima apresentação. Pronto. Só mesmo quem não trabalha é que tem tempo para isto.
O sistema é tão eficaz que suponho que o utilizarão com os outros subsídios também.
“ Declara-se que o Sr. João Lopes, portador do BI… e com o número de Segurança Social… compareceu nesta instituição em 21-08-2007, tendo-se masturbado durante 6 minutos e 14 segundos, e que, salvo alterações que possam ocorrer, a data limite para a próxima apresentação é 05-09-2007.
Mais se informa que, apesar de nada lhe ter sido solicitado, o Sr. João Lopes insistiu em nova repetição, pois segundo observava “o tempo foi manifestamente elevado” e “consigo melhor”, sendo então concedida nova tentativa, tendo levado desta vez 11 minutos e 52 segundos, não se verificando assim qualquer melhoria.
Regista-se ainda a recusa do Sr. João Lopes em abandonar as instalações, vendo-se esta técnica obrigada a solicitar a intervenção do segurança que, com alguma dificuldade, o conseguiu manietar e remover da instituição, o que não impediu o Sr. João Lopes de dar a volta por fora, de se encostar ao vidro da sala de acolhimento e de nele bater repetidamente, afirmando sempre que só precisava de 5 minutos, mas que primeiro tinha de descansar um bocado.“
