segunda-feira, novembro 27, 2006
A última chamuça
É a ultima semana lá no trabalho. Como é a última, e tão cedo não devo almoçar por Entrecampos, estou disposto a comer em locais onde fui maltratado, que é em quase todo o lado, mas nunca do modo como o fui no centro comercial Gemini.
Estou ao balcão da barraca das sandes e a velha lá dentro frita batatas. Dou boas tardes. Ela sorri. É uma armadilha, claro. Não posso fazer já o pedido. Uma vez, presenciei isto: estavam duas raparigas ao balcão e a velha á volta das batatas.
- Olhe, se faz favor, depois quando puder...
- Só um momento!! Só um momento!!
- Diga-me só...
- NÃO ESTÁ VER QUE ESTOU DE RODA DAS BATATAS??!!!
- Não... nós só queriamos...
- VÁ-SE SENTAR! PORQUE É QUE NÃO SE VAI SENTAR??! EU JÁ A ATENDO!!
Era assim. O filho ás vezes ajudava-a, quando o movimento era fraco. Nunca tive razão de queixa dele.
Estou, portanto, ao balcão, á espera. Espero pela fritura das batatas, mas nem sequer vou comer batatas. Chega mais um tipo. Dá as boas tardes. A velha sorri. Ele não pede nada. Apenas espera, como eu. As batatas acabam de fritar, a velha levanta a rede, coloca-a no suporte da frigideira e vem ao balcão. Olha para ele, depois para mim, e o que é que ela faz? O que é que o estupor da velha faz? Atende o gajo primeiro. E o que é que o gajo faz? Pede a última chamuça. E o que é que eu faço? Pergunto se tem mais chamuças. E o que é que ela responde? Que chamuças não, aquele senhor levou a última, mas que tem sonhos. Que estão muito bons. Se não quero um.
Porca senil.
Esta semana volto lá, á laia da despedida.
posted by: João @ 21:56
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